quarta-feira, 7 de outubro de 2009

RECICLAGEM: TECNOLOGIAS E MATERIAIS

Por Jaqueline B. Ramos *

Para ter uma conduta sustentável no dia-a-dia, todo mundo deve ter em mente o conceito dos 5Rs: Repensar os hábitos de consumo e descarte, Recusar e não consumir produtos que prejudicam o meio ambiente e a saúde, Reduzir o consumo desnecessário, Reutilizar e recuperar ao máximo antes de descartar e, finalmente, promover a Reciclagem dos materiais descartados.

Em linhas gerais, a Reciclagem promove benefícios não só ambientais, mas também sociais e econômicos. Além de diminuir a pressão sobre os recursos naturais, processos de reciclagem geram trabalho e renda para um grande número de pessoas. A reciclagem converte, através de processos industriais e, em alguns casos, até artesanais, a matéria-prima do lixo descartado em produto semelhante ao inicial ou em outro produto.

O primeiro passo para entender a reciclagem é mudar o conceito que se tem de lixo como uma coisa suja e inútil. A verdade é que, por conta de diferentes tecnologias e materiais, é possível trazer de volta ao ciclo produtivo o que tinha sido jogado fora. Daí a origem do nome Re – repetir - e cycle (ciclo, em inglês).

Mesmo sem um marco regulatório para a reciclagem, o Brasil consegue movimentar cerca de R$ 8 bilhões anuais com o setor, gerando renda a 800 mil catadores, mantendo 550 cooperativas e empregando formalmente 50 mil pessoas em indústrias destinadas ao reaproveitamento do lixo seco. Hoje a reciclagem atinge 12% do lixo urbano no país, com potencial para atingir muito mais se os processos passarem a ter mais incentivo do Poder Público.

Veja a seguir um panorama das tecnologias e métodos de reciclagem de diferentes materiais já colocados em prática:

Aço

A reciclagem do aço é tão antiga quanto a própria história da utilização do metal pela humanidade. A lata jogada no lixo pode voltar infinitas vezes em forma de tesoura, maçaneta, arame, automóvel ou uma nova lata. O aço se funde à temperatura de 1.300 graus centígrados e assume um novo formato sem perder suas características de dureza, resistência e versatilidade. Ou seja, ele é infinitamente reciclado.

A ferrugem (oxidação) que vai consumindo o aço colocado em contato com a natureza faz com ele seja o único material de embalagem degradável num prazo médio de 3 anos. Reutilizar a lata de aço é outra forma de economizar energia, matéria-prima e tratamento do lixo.

Alumínio

O alumínio é um dos materiais que tem maior reciclabilidade, ou seja, pode ser produzido inúmeras vezes sem perder suas qualidades no processo de reaproveitamento. O exemplo clássico é a lata de alumínio para bebidas, que após processo industrial se transforma novamente em lata e pode voltar ao ciclo de produção de forma infinita.

A reciclagem de alumínio é feita tanto a partir de sobras do próprio processo de produção como de sucata gerada por produtos com vida útil esgotada. Na verdade a reciclagem tornou-se uma característica intrínseca da produção de alumínio, pois as empresas sempre tiveram a preocupação de reaproveitar retalhos de chapas, perfis e laminados gerados durante o processo de fabricação.

A cada quilo de alumínio reciclado, cinco quilos de bauxita (minério de onde se produz o alumínio) são poupados. Para se reciclar uma tonelada de alumínio gasta-se somente 5% da energia que seria necessária para se produzir a mesma quantidade de alumínio primário.

Embalagens PET

Quando reciclada, a embalagem PET (polietileno tereftalato) tem inúmeras vantagens sobre outras embalagens do ponto vista da energia consumida, consumo de água, impacto ambiental e benefícios sociais. O polímero de PET é um poliéster, um dos plásticos mais reciclados em todo o mundo devido a sua extensa gama de aplicações: fibras têxteis, tapetes, carpetes, não-tecidos, embalagens, filmes, fitas, cordas, compostos, entre outros.

A reciclagem de PET pode ser dividida em quatro etapas: coleta, seleção, revalorização e transformação. As etapas de coleta e seleção representam o grande desafio da reciclagem do PET pós-consumo. Milhões de dólares são gastos em logística, distribuição e marketing para que os consumidores comprem produtos embalados em PET.

A etapa de transformação utiliza o material revalorizado e o transforma em outro produto vendável, o produto reciclado. A etapa de revalorização realiza a descontaminação e adequação do material coletado e selecionado para que possa ser utilizado como matéria prima na indústria de transformação. A embalagem PET é 100% reciclável.

Embalagens Tetrapak

Uma das novidades da reciclagem da embalagem longa-vida / tetra pak é o processo Plasma. Por esse método, papel, alumínio e plástico da embalagem são reaproveitados. Antes, somente o papelão era reciclado. O processo foi desenvolvido no Brasil pelas empresas Tetra Pak, Klabin e TSL Ambiental.O sistema já despertou interesse de outros países e usa energia elétrica para produzir um jato de plasma e aquecer a 15 mil graus Celsius a mistura de plástico e alumínio. Assim, o plástico é transformado em parafina e o alumínio é recuperado. Um dos projetos que mais faz sucesso utilizando esta tecnologia é a transformação do plástico e alumínio das embalagens em placas e telhas recicladas para construção civil.

Entulho

O maior problema para a reciclagem de entulho é o desperdício e a disposição inadequada em terrenos baldios e margens de rios. Os custos destes problemas são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho.

Os resíduos de construção e demolição consistem em concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes etc. Muitos desses materiais e a maior parte do asfalto e do concreto utilizado em obras podem ser reciclados. É possível produzir agregados - areia, brita e bica corrida para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos, e uso em argamassas e concreto. Da mesma maneira, pode-se fabricar componentes de construção - blocos, briquetes, tubos para drenagem, placas.

A reciclagem de entulho pode ser realizada com instalações e equipamentos de baixo custo, apesar de existirem opções mais sofisticadas tecnologicamente. Havendo condições, pode ser realizado na própria obra que gera o resíduo, eliminando os custos de transporte.

Papel

A reciclagem do papel é tão importante quanto sua fabricação, pois a matéria-prima do produto já está escassa devido a todos os problemas de desmatamento de florestas. Na fabricação de uma tonelada de papel a partir de papel usado, o consumo de água é muitas vezes menor e o consumo de energia cai pela metade. Economizam-se 2,5 barris de petróleo, 98 mil litros de água e 2.500 kw/h de energia elétrica com uma tonelada de papel reciclado.

O papel reciclado pode ser aplicado em caixas de papelão, sacolas, embalagens para ovos, bandejas para frutas, papel higiênico, cadernos e livros, material de escritório, envelopes, papel para impressão, entre outros usos.

Pneus

O surgimento dos pneus de borracha fez com que fossem substituídas as rodas de madeira e ferro, usadas em carroças e carruagens desde os primórdios da História. Porém, a utilização dos pneus de borracha trouxe consigo a problemática do impacto ambiental, uma vez que a maior parte dos pneus descartados fica abandonado em locais inadequados e causa grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vidas humanas.

Uma forma encontrada para amenizar esse impacto foi a utilização das metodologias de reciclagem e reaproveitamento, como a recauchutagem, que tem sido um mecanismo bastante utilizado para conter o descarte de pneus usados. Esta técnica permite que o recauchutador adicione novas camadas de borracha nos pneus velhos, aumentando a vida útil do pneu em 100% e proporcionando uma economia de cerca de 80% de energia e matéria-prima em relação à produção de pneus novos.

O processo de recuperação e regeneração dos pneus exige a separação da borracha vulcanizada de outros componentes (como metais e tecidos, por exemplo). Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d'água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las.

Vidro

O vidro é uma mistura de areia, barrilha, calcário, feldspato e aditivos que, derretidos a cerca de 1.550°C, formam uma massa semi-líquida que dá origem a embalagens ou a vidros planos. O principal componente do vidro é a sílica. É possível fazer vidro só com a fusão da sílica. Boa parte dessas matérias primas é importada ou provém de jazidas em franco esgotamento.

Na reciclagem do vidro, o caco funciona como matéria-prima já balanceada, podendo substituir o feldspato que tem função fundente, pois o caco precisa de menos temperatura para fundir. Os cacos devem ser separados por cor (transparente, marrom e verde). O vidro comum funde a uma temperatura entre 1000oC e 1200oC, enquanto que a temperatura de fusão da fabricação do vidro, a partir dos minérios, ocorre entre 1500 oC e 1600 oC.

A fabricação do vidro a partir dos cacos economiza energia gasta na extração, beneficiamento e transporte dos minérios não utilizados. A economia de energia é a principal vantagem do processo.


Fontes: Ambiente Brasil, Cempre, Tetrapak

*Publicado na edição n. 86 (julho/agosto 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung

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